Falar de educação é sempre instigante, pois muitos a viveram e, por isso,
possuem alguma opinião a ser defendida. Ou seja, é um prato cheio de temas para
debates profundos, às vezes prolixos. Mesmo assim, estou aqui para lançar um
foco ao horizonte que acredito que deve ser buscado.
Durante minha formação, eu vivi o poder transformador das tecnologias da
informação e comunicação sobre a organização escolar e sobre o processo de
aprendizagem, na qualidade de estudante e de professor. Assisti o crescimento
da internet, do acesso discado à onipresença do acesso 4G. Estudei em
bibliotecas com busca ao acervo através de fichas de arquivo e pedidos de
comutação bibliográfica à facilidade dos livros e periódicos disponibilizados
em PDF. Estudei e lecionei com a plataforma Moodle®. Trabalhei com
profissionais de outros países presencialmente e remotamente, através de
vídeo-chamadas. Enfim, vi promessas de futuro tornarem-se realidade e é com
base nas experiências citadas que conversaremos sobre o futuro, sobre a
educação no século XXI, um século ainda na primeira infância.
Como professor, sou muito afeito ao método socrático e adoro questionar
os meus pupilos, no lugar de apresentar respostas prontas. Nesse sentido,
pergunto: como será o mundo em 2050, quando os senhores serão profissionais
plenos? Como saber se estarão prontos para as oportunidades que surgirão?
Sob meu ponto de vista, o cenário é incerto. Ao considerarmos a
geopolítica, o modelo atual de uso dos recursos naturais e as tecnologias
emergentes, entre outros, penso que cada cidadão, especialmente aquele que hoje
inicia o ensino superior, deve desenvolver uma mentalidade para aprender o novo
sempre, por toda a vida. Adicionalmente, diversas fontes indicam que o produto
da soma das Tecnologias da Informação e Comunicação com a Automação terá um
efeito disruptivo com sobre o trabalho desenvolvido pela humanidade, o qual tem
sido denominado como a 4ª Revolução Industrial ou Indústria 4.0.
Basicamente, tudo aquilo que é feito por humanos e que é repetitivo será
feito por robôs. A lógica é simples, o capital está a busca de escalabilidade.
Em outras palavras, aqueles que dominam os meios de produção buscam uma forma
de ganhar dinheiro dormindo. Afinal, robôs não dormem, nem solicitam férias.
Essa transformação já está acontecendo nas indústrias de veículos, de alimentos
e até na educação.
O cenário que se desenha é de uma clareza solar. Algumas profissões irão
desaparecer e outras, ainda desconhecidas, surgirão. Observem que esse fenômeno
não é novo. Ao longo da história, profissões desapareceram e as pessoas
precisaram aprender algo novo, desenvolver novas competências, para continuar a
contribuir com a sociedade. Destaco algumas das profissões que desapareceram: o
acendedor de lampião, o leitor de livros em fábricas de manufatura e a
datilógrafa. Respectivamente, eles foram substituídos pela eletricidade, pelo
rádio e pelo computador.
Mais duas perguntas: alguém gostaria de que essas profissões retornassem,
mesmo que por nostalgia? Ou, ainda, alguém abriria mão de algumas das
tecnologias que causaram a extinção das profissões citadas?
Para o Universidade o cenário também é intrigante. Essas instituições,
como a conhecemos atualmente, apesar dos avanços científicos e tecnológicos,
seguem a estrutura medieval de sua concepção. Institutos, Departamentos,
Faculdades, Núcleos, Disciplinas. Tudo foi categorizado, um esforço cartesiano
de estudar as partes na expectativa de compreender o todo. Porém, a
instantaneidade do mundo contemporâneo e o repositório sem fim da internet e
seus buscadores desafiam esse modelo. Os novos modelos de negócios, as redes
sociais e as plataformas de ensino a distância mostram que o mundo é carregado
de outros matizes que nem sempre são observados da janela da Torre de Marfim.
Cursos massivos, abertos em plataformas de ensino (MOOC – Massive, Open
and On-line Courses), assim como o YouTube desafiam os professores. Alguns
estudantes poderiam pensar: Se posso assistir a aula do professor de Stanford
no Coursera®, por que assistir a aula desse professor na universidade? Se posso
assistir a essa aula em qualquer lugar, no horário que eu desejar, por que vir
ao Campus e ficar na sala de aula? Acredito que estou em treinamento para
ganhar dinheiro com a loteria, ou não entendi como essas provas de múltipla
escolha me ajudarão em minha profissão? Esse é o pensamento que orienta alguns
jovens, muito confiantes e empreendedores, que compartilham os valores no
movimento UnCollege. Para sumarizar,
eles perceberam que é possível contribuir com o mundo do trabalho sem um
diploma universitário, algumas vezes com o retorno financeiro imediato e maior.
Um ponto de vista interessante. Meu contraponto é: Universidade não é apenas
profissionalização. É mais que isso, muito mais que isso...
Algumas instituições de ensino superior, no Brasil e no exterior, atentas
às mudanças no horizonte, adotam ativamente ajustes em seus modelos. Elas têm
buscado um novo arranjo institucional, alternativas para o sistema de ingresso
e permanência, uma prática pedagógica diversificada, uma maior integração com a
comunidade, colaboração interinstitucional e projeção global de seus membros.
Assim, nascem as comunidades de aprendizagem de educação para o século XXI.
Essas comunidades são compostas por membros que estão dispostos a
aprender a todo momento e que em sua prática cotidiana observam alguns
princípios, a saber: o desenvolvimento do pensamento crítico, a construção de
portfólios, a avaliação transparente dos resultados, o ensino contextualizado,
a aprendizagem baseada na resolução de problemas ou desenvolvimento de
projetos, a interdisciplinaridade, o trabalho colaborativo. Ao exibirem esse comportamento,
esses profissionais desenvolvem um conjunto de competências profissionais
complementares, mas extremamente importante para seu engajamento profissional e
social. São as chamadas competências subjetivas (soft skills), que são pobremente delineadas, mas regularmente
investigadas pelo Fórum Econômico Mundial entre os líderes mais proeminentes das
mais variadas instituições globais.
Essas competências só podem ser desenvolvidas através do convívio, por
isso a presença do estudante na universidade é importante. São elas que tornam
o ser humano único. São elas que cada estudante deve buscar desenvolver além do
currículo programado. Ao fazer isso, ele aprenderá diferentes estratégia de
argumentação e de forma respeitosa. Ela aprenderá que pessoas com valores
diferentes podem coexistir e colaborar para o bem da sociedade e das
instituições. Ela aprenderá que o lucro é importante, mas que o respeito à
dignidade e à vida da pessoa humana importa mais. Ele aprenderá que as pessoas
são profissionais competentes, independente do gênero. Ela aprenderá a liderar
e a ser liderada. Ao que parece, o Século XXI será o século das Ciências
Humanas o que é promissor para cada um dos senhores.
Defendo, então, que o ensino superior e a universidade existem para
possibilitar o desenvolvimento de um profissional que domine o conhecimento em
um campo da ciência, bem como para formar o cidadão protagonista, o cidadão que
contribuirá para a construção de uma nação melhor para todos os patrícios. E
isso está disposto no artigo 43, da Lei de diretrizes e bases. A interação
humana, o relacionamento institucional e a negociação política são experiências
fundamentais desse processo de desenvolvimento. E, assim, faço votos para que
cada estudante aqui presente se torne o cidadão que o Brasil precisa, afinal
precisamos de novas lideranças.
Agora, as considerações finais do professor. Primeiro, conheça a
instituição, a comunicação e o símbolos da universidade. Esse será o primeiro
obstáculo a ser superado. Por isso, conversem com colegas e professores para
ter certeza de que entenderam aquilo que foi comunicado. Segundo lugar, aprenda
a estudar e a aprender. Não estude para obter nota na prova, mas para dominar o
conhecimento. É isso que os tornará únicos e capazes de saber como resolver uma
situação no futuro. Em seguida, prepare-se para o mundo do trabalho, seja
honesto, perseverante e colaborativo. Registre o seu desenvolvimento, sua
produção, isso será útil para abrir portas no futuro. Enfim, conheça os seus
limites e saiba que você pode expandi-los com certo esforço. Isso é importante
para superar as situações de ansiedade paralisante.
Uma última
pergunta, estão todos prontos para as surpresas e alegrias que surgirão durante
essa viagem?
Um processo de aprendizagem que permite o protagonismo estudantil, o desenvolvimento de competências subjetivas e de novas lideranças é Educação para o Futuro! Isso é #EDU4F
Um processo de aprendizagem que permite o protagonismo estudantil, o desenvolvimento de competências subjetivas e de novas lideranças é Educação para o Futuro! Isso é #EDU4F
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